A cannabis medicinal no tratamento de transtornos mentais
As incidências de transtornos psiquiátricos vêm crescendo cada vez mais ao longo dos últimos anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental, como a ansiedade e a depressão.
Embora o uso da cannabis medicinal seja mais frequentemente associado as suas propriedades anticonvulsivantes, estudos clínicos e relatos anedóticos têm demonstrado seu potencial terapêutico para uma variedade de condições, incluindo transtornos mentais.
Contendo mais de 150 fitocanabinoides, sendo os mais estudados o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), a cannabis medicinal para fins psiquiátricos vem chamando atenção especialmente devido as suas propriedades ansiolíticas e antidepressivas, associadas ao alívio sintomático em condições relacionadas ao estresse, regulação do humor e na melhoria dos sintomas depressivos.
Além do potencial terapêutico, o uso medicinal da cannabis também vem sendo apontado como uma alternativa mais natural de tratamento, ajudando a minimizar os efeitos adversos dos medicamentos convencionais. Contudo, ainda há muito o que ser discutido.
Entenda a seguir as evidências da cannabis medicinal no tratamento de transtornos psiquiátricos, os benefícios para os pacientes e qual o papel não apenas do médico psiquiatra, mas também do psicólogo no tratamento com a planta.
Como a cannabis pode ajudar nos quadro mentais
Em um informe técnico feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado em 2020, o órgão realizou uma revisão de escopo de revisões sistemáticas a respeito das evidências disponíveis sobre o uso medicinal da cannabis para quadros psiquiátricos.
Depressão: Alguns estudos clínicos indicam que a cannabis medicinal pode ter efeitos positivos no alívio dos sintomas da depressão em certos indivíduos. Em um estudo realizado pela MacAnxiety Research Centre, da Universidade de McMaster, no Canadá, os pesquisadores relataram melhora na qualidade de vida e estabilidade de humor em pacientes com episódios depressivos recorrentes que usaram o Dronabinol de forma adjuvante ou como monoterapia.
Já em outro estudo, realizado pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, verificou que os canabinoides produzem efeito antidepressivo e ansiolítico promovidos pela neurogênese do hipocampo, mesmo mecanismo produzido pelos medicamentos antidepressivos.
Embora também existam pesquisas realizadas em modelos animais, os resultados desses estudos nem sempre se traduzem em efeitos semelhantes em seres humanos.
Ansiedade: Por ter propriedades ansiolíticas, pesquisas preliminares sugerem que certos canabinoides presentes na cannabis, como o CBD, podem ajudar nos sintomas de ansiedade.
Anorexia: Devido aos efeitos estimulantes da cannabis, especialmente do THC, alguns estudos indicam que o uso medicinal da planta pode ajudar a estimular o apetite em pacientes com anorexia, como apontado por Mohamed Ben Amar, em um artigo publicado em 2006. No entanto, é importante considerar outros fatores relacionados à anorexia, como tratamento psicoterapêutico e apoio nutricional, para abordar adequadamente o transtorno.
Outros transtornos: Embora diversos estudos ainda estejam em andamento e sejam necessários para maior compreensão e evidências, a cannabis medicinal atualmente também pode ser indicada para o tratamento de distúrbios como Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), Transtorno bipolar, Síndrome de Burnout e Esquizofrenia.
Benefícios do tratamento com canabinoides para a saúde mental
“A gente está muito acostumado a trabalhar — nos antidepressivos —, com a serotonina, dopamina, acetilcolina. A cannabis medicinal também é uma forma da gente trabalhar com elas, mas de forma menos agressiva, com menos efeito colateral, promovendo uma autorregulação do próprio corpo”, introduz Joao Victor lorenzetti Nunes, Médico e pós-graduado em Psiquiatria e Sexologia.
Para o uso medicinal da cannabis no tratamento de transtornos psiquiátricos, ele destaca principalmente o seu potencial em reduzir os efeitos colaterais indesejados dos medicamentos convencionais.
Com esse intuito, Joao frisa a importância da cannabis medicinal como uma opção de tratamento adjuvante, associada aos antidepressivos — e demais medicamentos tradicionais —, a psicoterapia e outras intervenções.
“Por isso, muitas vezes associando a cannabis medicinal com o antidepressivo, por exemplo, ele diminui muito o efeito colateral; e quanto menor o efeito colateral, melhor a qualidade de vida”, ressalta o médico.
Dentre outros benefícios relacionados a planta, Joao destaca a melhoria de sintomas relacionados a muitos transtornos mentais, como:
- Expansão da janela de tolerância emocional
- Melhora no sono
- Melhora no quadro de estresse e irritação
O papel do psicólogo no tratamento com cannabis medicinal
Embora falar sobre o uso medicinal da cannabis para fins de tratamento psiquiátrico envolva, principalmente, o médico psiquiatra, o psicólogo desempenha uma função fundamental no suporte psicológico, fornecendo avaliação, aconselhamento e terapia para ajudar os pacientes a lidar com os aspectos emocionais relacionados ao uso da cannabis medicinal.
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