Cannabis e idosos: veja como a planta ajuda na saúde nesta fase da vida
Quase um quinto da população brasileira tem mais de 60 anos, de acordo com um estudo realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso significa que existem cerca de 37,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais só no Brasil. Diante de uma população cada vez mais velha, seria a Cannabis uma opção para tratar as doenças mais comuns entre idosos?
Além de notar o processo de envelhecimento da sociedade, é importante entender em qual situação se encontra essa parcela da população. Outro dado relevante da pesquisa é que apenas 32% têm plano de saúde e 58% apresentam comorbidades.
De acordo também com o IBGE, mais de 70% das pessoas dependem do SUS (Sistema Único de Saúde) para serem atendidas.
E as doenças mais atendidas no SUS são a hipertensão e a diabetes, que acometem, principalmente, as pessoas idosas.
Além dessas duas patologias, as pessoas com mais de 60 anos também são acometidas com regularidade por doenças como Parkinson, Alzheimer e câncer.
Hoje, já existem estudos que mostram evidências de que a Cannabis tem potencial terapêutico para tratar essas doenças.
Vamos entender um pouco mais sobre essas patologias e como a Cannabis pode ajudar no tratamento dessas doenças comuns entre idosos.
Hipertensão
A Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) estima que 33% da população do país seja hipertensa. Esse percentual aumenta para 65% quando se trata de pessoas com mais de 60 anos.
A hipertensão é uma doença silenciosa por ser assintomática. Quando os sintomas surgem, significa que o quadro já apresenta complicações, como é o caso de dores no peito, que podem indicar um infarto, uma das principais consequências do problema, que leva à morte de centenas de milhares de pessoas pelo mundo.
Um estudo da Universidade Ben-Gurion de Negev e do Centro Médico de Soroka, em Israel, publicado em janeiro de 2021, concluiu que a Cannabis pode beneficiar idosos com hipertensão.
O estudo, publicado no European Journal of Internal Medicine, monitorou 26 pacientes com mais de 60 anos. Foram feitas as seguintes avaliações: monitoramento ambulatorial da pressão arterial por 24 horas, ECG, exames de sangue e medidas antropométricas antes do início da terapia com Cannabis e 3 meses depois.
O estudo concluiu que a Cannabis reduziu as “pressões sistólicas e diastólicas: a primeira diminuiu em 5,0 mmHg e, a segunda, em 4,5 mmHg” e “o ponto mais baixo foi registrado três horas após a ingestão da Cannabis , seja por via oral, através de extratos, ou fumando.”
Diabetes
A diabetes é uma doença crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Seu diagnóstico se dá por um simples exame de sangue
A Sociedade Brasileira de Diabetes realizou em 2021 uma atualização dos dados dos números do Censo Diabetes e estima que, hoje, no Brasil, existam mais 12 milhões de pessoas com a doença. Cerca de 90% possuem diabetes do Tipo 2 e entre 5% e 10%, possuem diabetes do Tipo 1.
A doença pode afetar os idosos da mesma maneira que afeta as pessoas mais jovens, porém quem tem mais de 60 anos é acometido mais pela diabetes do Tipo 2 devido à resistência aos efeitos da insulina ou a produção insuficiente de insulina por causa do envelhecimento.
Apesar de especialistas não afirmarem exatamente qual o tipo de mais grave, porque a análise precisa ser feita de forma individual, esse quadro aumenta a probabilidade de complicações cardíacas e vasculares em idosos, aumentando os riscos de morte e de amputação.
Porém, a Cannabis pode ajudar os idosos a tratarem essa doença.
Um estudo realizado pela equipe do químico Raphael Mechoulam, uma das maiores autoridades canábicas do mundo, apontou que o CBD (canabidiol) reduziu a incidência de diabetes em camundongos diabéticos não obesos.
“Nossos resultados indicam que o CBD pode inibir e atrasar a insulite destrutiva e a produção de citocinas inflamatórias associadas a Th1 em camundongos NOD [modelo espontâneo de diabetes autoimune], resultando em uma diminuição da incidência de diabetes, possivelmente por meio de um mecanismo imunomodulador que muda a resposta imune da dominância Th1 para Th2”, afirmaram os pesquisadores.
Parkinson
A doença de Parkinson ocorre por conta da degeneração de células cerebrais, afetando os movimentos e causando tremores, desequilíbrio, lentidão de movimentos, rigidez muscular e alterações na fala e na escrita.
Segundo a Associação Brasil Parkinson, apesar da doença poder afetar qualquer pessoa, porém, a patologia tende a afetar pessoas mais idosas. Os primeiros sintomas aparecem na grande maioria das pessoas a partir dos 50 anos. A associação estima que 1% das pessoas com mais de 65 anos têm a doença de Parkinson.
A progressão da doença varia de paciente para paciente, mas sua evolução tende a ser lenta, regular e sem rápidas mudanças. Porém, seus efeitos impactam diretamente na qualidade de vida da pessoa, principalmente na questão da lentidão dos movimentos.
Mas a Cannabis pode colaborar com a melhora da saúde dos idosos que sofrem com essa doença.
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, realizaram um estudo observacional aberto para avaliar o efeito clínico da Cannabis nos sintomas motores e não motores da Doença de Parkinson.
Vinte e dois pacientes com a doença, atendidos em uma clínica de distúrbios motores, entre 2011 a 2012, foram avaliados no início e 30 minutos após fumar Cannabis. Os pacientes foram submetidos a seguintes ferramentas de medição: Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson, escala visual analógica, escala atual de intensidade de dor, Short-form McGill Pain Questionnaire e o questionário do National Drug and Alcohol Research Center, do Medical Cannabis Survey.
Alzheimer
O Alzheimer é o tipo de demência mais comum que causa problemas na memória, no pensamento e no comportamento. Segundo a Alzheimer’s Association, o paciente com a doença vive, em média, oito anos após o surgimento dos sintomas.
Estima-se que no Brasil exista cerca de 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer, sendo a maior parte delas ainda sem diagnóstico, de acordo com Associação Brasileira de Alzheimer.
Uma das formas de prevenção, segundo o Ministério da Saúde, é controlar o diabetes e a pressão arterial, duas doenças comuns em idosos que podem aumentar o risco de Alzheimer em até 50%.
Pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel, fizeram uma revisão em estudos científicos em modelos animais e em humanos com foco no uso da Cannabis na meia idade, na velhice e na cognição.
Os resultados apontaram que que o uso de Cannabis em idades avançadas pode estar associado à melhora da saúde do cérebro, por causa das suas propriedades neuroprotetoras presentes nos canabinoides.
Câncer
A idade é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de câncer. De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), idosos possuem 11 vezes mais chances de desenvolver a doença do que as pessoas mais jovens. Os tipos de câncer mais comuns entre os idosos são: tumor de pele não melanoma, próstata, mama, cólon, reto, pulmão e estômago.
A Cannabis pode ser uma opção do tratamento dos idosos que sofrem com essas enfermidades. A planta possui propriedades anticancerígenas e de combate a dor, as náuseas, os vômitos e os efeitos adversos da quimioterapia.
Um dos primeiros estudos que apontou o potencial terapêutico dos canabinoides no combate ao câncer foi realizado em 1975, por Munson, que descobriu que os canabinoides suprimem o crescimento das células do carcinoma pulmonar de Lewis, um modelo tumoral usado em estudos sobre o desenvolvimento de metástases e angiogênese e muito usado para avaliação da atividade de novos compostos quimioterápicos.
Uma revisão feita por pesquisadores na Alemanha se propôs a resumir o papel do sistema endocanabinoide e dos compostos canabinoides na progressão tumoral. A conclusão foi que “o conhecimento atual sugere compostos canabinoides servem como um grupo de drogas que podem oferecer vantagens significativas para pacientes que sofrem de doenças cancerígenas.”
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