Cannabis na recuperação de lesões: como ela pode ajudar?
O corpo humano é suscetível a uma infinidade de lesões. Embora algumas sejam mais rápidas para curar, outras podem exigir um longo caminho de recuperação, podendo envolver um tratamento mais lento e até mesmo agressivo.
Ainda que existam inúmeros recursos terapêuticos para tratar tais traumas, um dos principais desafios no consultório não é apenas a total recuperação da lesão, mas especialmente o alívio da dor, um dos sintomas mais latentes e incômodos deste dano.
Os opioides são frequentemente utilizados para tratar os sintomas de dor, principalmente em casos de lesões, porém tendem a vir com uma extensa lista de efeitos colaterais potencialmente prejudiciais para os pacientes.
Mas existem outras alternativas de tratamento para a recuperação de lesões e alívio da dor. Como por exemplo os canabinoides, que podem ser usados para modular a dor e a inflamação.
Efeitos nocivos dos medicamentos convencionais
Atualmente, quando falamos sobre lesões, as medicações que temos mais acesso são os anti-inflamatórios não-esteroidais, os analgésicos simples – como o paracetamol e a dipirona – ou os analgésicos opioides.
Embora sejam amplamente eficazes, Jessica Durand destaca alguns dos principais problemas de tais categorias medicamentosas. Os analgésicos simples, por exemplo, ainda que sejam bons medicamentos, não possuem o controle da dor, principalmente em casos de dor neuropática.
Já os opioides, mesmo que potentes, possuem uma série de efeitos colaterais, como o risco de dependência e o risco de tolerância. “São medicamentos que também podem ter interações com outras medicações e a gente acaba tendo muito problema com isso”, salienta a médica.
Também com muitos efeitos colaterais, como efeitos gastrointestinais, úlcera e lesão renal aguda em idosos, os anti-inflamatórios não-esteroidais (celecoxibe, naproxeno, ibuprofeno, entre outros) bloqueiam completamente a inflamação, mascarando todo o processo inflamatório.
“Então acha-se que a dor está sendo controlada, mas na verdade estamos fazendo mal para o nosso corpo, porque aquele processo inflamatório que tem o objetivo de regenerar aquele tecido vai ser completamente bloqueado, e isso acaba sendo muito negativo”.
Como a cannabis age na recuperação de lesões?
A cannabis medicinal, que se refere ao uso dos canabinoides para fins terapêuticos, tem sido cada vez mais descrita como uma alternativa eficaz. É o que explica Jessica Durand, médica e pós-graduada em Medicina Esportiva e Cannabis Medicinal, “Ela é uma moduladora da inflamação, e consegue tirar a dor e o edema, por exemplo, otimizando a regeneração tecidual e a cicatrização de feridas.”
Jessica esclarece que a inflamação é o recrutamento de células de defesa, que leva a uma série de processos fisiológicos, visando exclusivamente regenerar aquele tecido que está lesionado.
Porém, ainda que o objetivo final do processo inflamatório seja muito positivo, ele acaba trazendo consequências para o nosso dia a dia, como a dor, o edema e a limitação funcional. São esses efeitos que interferem na qualidade de vida e no desempenho e funcionalidade cotidiana.
“Como a cannabis modula a inflamação, a gente consegue reduzir muito as consequências clínicas da lesão e ter o processo de regeneração tecidual acontecendo otimizadamente”, elucida a médica.
Unindo recursos terapêuticos: cannabis, fisioterapia e nutrição
Para determinar um melhor tratamento para casos de lesões, Jessica evidencia a necessidade de, antes de tudo, os diferentes perfis de paciente vão determinar a conduta do tratamento.
“Por exemplo, um paciente sedentário versus um paciente que era ativo, que praticava algum exercício físico, ou um esportista, vão ter consequências diferentes”.
Jessica também explica a importância do acompanhamento interdisciplinar ao longo do tratamento, como um protocolo de fisioterapia para reparar a lesão, especialmente no caso dos atletas, para que outros traumas sejam prevenidos também.
É o papel do fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional promover a reabilitação do paciente, focando na melhoria da mobilidade, força muscular, flexibilidade e coordenação, e desenvolvendo programas de tratamento individualizados e adaptados às necessidades específicas de cada pessoa, assim como os tratamentos com cannabis medicinal.
Além da recuperação do local lesionado, a médica destaca o papel da alimentação e do acompanhamento nutricional em todo o tratamento, salientando o aproveitamento no consumo de alimentos com poder antioxidante e anti-inflamatório, proteínas e carnes magras, gorduras positivas – como o azeite, as oleoginosas, óleo de peixe, ômega 3 -, e os macros nutrientes.
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