Cannabis no tratamento de doenças raras; veja benefícios

Published On: 17/02/20216.6 min read

As doenças raras são aquelas que afetam 65 pessoas em cada 100.000 indivíduos, de acordo com o Ministério da Saúde. São 13 milhões de pessoas no Brasil nesta condição. A estimativa é que existam entre 6.000 e 8.000 tipos diferentes de doenças raras em todo mundo. Entre elas estão: Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), Doença de Crohn, síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut, entre outras. E a Cannabis oferece benefícios no tratamento de doenças raras.

E por que um tratamento efetivo é extremamente importante? Porque as doenças raras não têm cura. Geralmente, essas patologias são crônicas, progressivas, degenerativas e podem levar à morte.

Entre as causas que levam ao desenvolvimento dessas doenças estão: fatores genéticos e hereditários; infecções bacterianas ou virais e infeções alérgicas e ambientais.

Entretanto, a Cannabis no tratamento de doenças raras surge como uma esperança para os pacientes que buscam um tratamento adequado para reduzir os sintomas, as complicações e a evolução da doença.

E o cenário é alarmante.

Em 2019, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Instituto Nacional de Genética Médica e Populacional (Inagemp) divulgaram um censo nacional sobre doenças raras, que apontou um aumento de 150% nos casos dessas enfermidades, entre 2014 e 2018. O número de pessoas identificadas com esse tipo de patologia subiu de 4.100 para cerca de 10 mil no país.

Diante de um quadro preocupante de agravamento do número de casos de doenças raras, a Cannabis surge como opção terapêutica eficaz, principalmente na redução da dor, das inflamações, das convulsões e da espasticidade.

Veja algumas enfermidades e como a Cannabis atua no tratamento de doenças raras.

Síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut

As síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut promovem quadros severos de epilepsia refratária de difícil controle, mesmo com o uso de diversos medicamentos associados, além da debilitação do desenvolvimento intelectual, entre outros agravamentos.

Nestes casos, os óleos de Cannabis ricos em CBD (canabidiol) têm mostrado grande eficácia no tratamento, chegando, inclusive, a cessar as crises convulsivas.

É o que mostra um estudo duplo-cego com placebo, realizado pela The New England Journal of Medicine, em pacientes com a Síndrome de Dravet.

O resultado aponta que 50% dos pacientes tiveram pelo menos uma redução de na frequência de crises convulsivas, sendo 43% com canabidiol e 27% com placebo. A porcentagem de pacientes que ficaram livres das crises foi de 5% com canabidiol e 0% com placebo.

E este é apenas um dos inúmeros estudos que apontam a eficácia do canabidiol no tratamento da epilepsia.

Lembrando que foi a partir do tratamento da Síndrome de Dravet que a Cannabis medicinal ganhou destaque no mundo com a história da pequena Charlotte Figi, que, inclusive, teve seu nome homenageado na cepa usada no tratamento das suas crises, a Charlotte’s Web.

Doença de Crohn

A doença de Crohn afeta mais de 150 mil pessoas por ano no Brasil. Ela interfere na vida cotidiana de forma extrema e intrusiva, causando dor intensa e muitas idas urgentes ao banheiro.  

Acredita-se que a doença de Crohn seja provocada por uma desregulação do sistema imunológico, ou seja, do sistema de defesa do organismo. Portanto, a Cannabis, com seu potencial modulador, tem sido usada como tratamento dos pacientes que sofrem com esta patologia.

Um estudo publicado na revista Clinical Gastroenterology and Hepatology testou a ação da Cannabis sobre os sintomas da doença de Crohn e do Transtorno do Intestino Irritável.

Os pesquisadores dividiram 21 pacientes em dois grupos, 11 deles receberam cannabis com 115 mg de THC, para ser fumada duas vezes ao dia. O outro grupo também recebeu Cannabis para fumar, porém sem nenhum THC.

Cada voluntário já havia tratado o distúrbio com terapia esteroide, imunomoduladores ou agentes antitumorais, mas sem resultados.

No final do estudo, os pesquisadores descobriram que os 11 participantes do grupo que receberam o THC relataram melhoras no sono e no apetite, sem efeitos colaterais notáveis. Desses, 3 foram “desmamados” da dependência de esteroides e 5 pacientes não apresentaram mais nenhuma atividade da doença.

Hemofilia

A hemofilia A e B é um distúrbio genético que afeta a coagulação do sangue, causando sangramentos prolongados dentro e fora do corpo. A doença é hereditária e atinge quase que exclusivamente indivíduos com o organismo do sexo masculino, chegando a 70% dos casos, de acordo com o Ministério da Saúde.

A doença é tão rara que atinge 13 mil pessoas no Brasil. Porém, a gravidade dos sintomas e a complexidade do tratamento fez com que, em 2019, o Governo Federal investisse R$ 1,3 bilhão em medicamentos destinados aos pacientes com hemofilia.

Além dos característicos sangramentos, os pacientes com a doença também sofrem com inchaços, lesões e dores agudas nas articulações. É neste momento que a Cannabis entra como um tratamento complementar aos medicamentos que promovem a coagulação sanguínea adequada.

A Cannabis é capaz de promover relaxamento das juntas, alívio das dores nas articulações e nos músculos, redução das dores de cabeça, gerenciamento da fadiga por causa da perda de sangue ou do tratamento, alívio de náuseas que podem surgir com os medicamentos e redução das inflamações em geral que o paciente venha a ter.

Angioedema hereditário

O angioedema hereditário é uma doença genética rara ainda pouco conhecida, mesmo que sua descrição date de 1876. O principal sintoma é o aparecimento recorrente de edemas subcutâneos ou mucosos, que não coçam, mas que geram fadiga, irritabilidade, fraqueza, náusea e eritema marginatum (lesões avermelhadas no tronco).

Além disso, esses edemas também atingem a mucosa de órgãos internos como pulmão, laringe e intestino, que pode gerar dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia ou prisão de ventre e até mesmo obstrução intestinal.

A Associação Brasileira de Pacientes com Angioedema Hereditário registrou, até maio de 2016, 1.235 casos da doença, sendo 363 homens e 872 mulheres. Em média, no Brasil, do tempo de início dos sintomas até o diagnóstico, o paciente espera aproximadamente 15 anos.

E a Cannabis surge como uma opção para reduzir os episódios recorrentes da doença.

Um artigo publicado na revista científica The Southwest Respiratory and Critical Care Chronicles afirma que “estudos recentes indicam que a Cannabis tem um papel importante na regulação da imunidade inata e respostas inflamatórias por meio da inibição de citocinas pró-inflamatórias e da regulação positiva de citocinas antiinflamatórias, reduzindo os episódios de angioedema.”

Apesar dos pesquisadores concordarem que são necessárias mais pesquisas, a Cannabis pode ser uma opção para os pacientes que buscam alternativas para tratar essa doença tão rara e complexa.

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