Como escolher um produto de cannabis para cada paciente?
A cannabis medicinal não é como dipirona. É necessário saber qual o produto de cannabis indicar para cada paciente
Além de dominar o Sistema Endocanabinoide, uma das coisas mais importantes de se saber antes de receitar um tratamento para o seu paciente, é que nenhum produto de cannabis é igual.
Eles são feitos de formas e com concentrações diferentes. Até a via administrativa pode mudar. Por isso, na prática clínica, é necessário levar em consideração diversos fatores, como a condição médica específica do paciente e os sintomas que precisam ser tratados.
A ampla variedade de produtos disponíveis no mercado — como óleos, cápsulas, comestíveis, cremes e flores — pode gerar dúvidas sobre qual é o mais indicado para cada paciente. Para os profissionais de saúde, entender as particularidades de cada produto e as necessidades individuais dos pacientes é essencial para garantir um tratamento seguro e eficaz.
A decisão ainda deve ser baseada na avaliação cuidadosa das necessidades e preferências individuais de cada paciente, em conjunto com a orientação médica especializada.
Diferenças para se considerar na escolha de um produto de cannabis
O canabidiol não é o único composto presente nos produtos de cannabis. Há também o THC (tetrahidrocanabinol), o CBN (canabinol), CBG (cannabigerol) e uma variedade de outras substâncias que influenciam de formas diferentes.
Isso sem contar com os demais compostos, como terpenos e flavonoides. Eles podem influenciar no efeito entourage dos chamados produtos Full-Spectrum, ou seja, feitos com a planta inteira.
Mas há situações em que você terá que usar produtos Broad (feitos com todos os compostos menos o THC), ou até produtos com CBD isolado.
A concentração do produto de cannabis também pode ser alta ou baixa. Mas tudo vai depender da patologia do paciente. Se o indivíduo possui ansiedade, por exemplo, o óleo será com uma concentração de CBD. Se tem dores, vai ter mais THC.
Ainda, se o paciente tem crises epilépticas, ele irá precisar de uma concentração um pouco mais forte do CBD, por exemplo.
Dessa forma, separamos cinco passos simples para você receitar de forma segura:
1. Conheça o Perfil do Paciente
O primeiro passo é realizar uma avaliação clínica detalhada. Considere fatores como:
Condição de saúde: Como dito, cada patologia pode responder melhor a diferentes compostos da cannabis. Por exemplo, pacientes com epilepsia refratária podem se beneficiar de produtos ricos em CBD, enquanto aqueles com dor neuropática podem necessitar de uma combinação de CBD e THC.
Histórico médico: Pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos ou dependência química podem exigir cautela no uso de THC, devido aos seus efeitos psicoativos.
Idade e estilo de vida: Idosos ou pacientes com dificuldade de deglutição podem preferir óleos sublinguais ou cápsulas, enquanto pacientes mais jovens podem se adaptar melhor a comestíveis ou vaporizadores.
2. Entenda os Compostos da Cannabis
A cannabis contém mais de 100 canabinoides, mas os dois mais estudados são o CBD e o THC. Enquanto o CBD não é psicoativo e tem propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes e anti-inflamatórias, o THC é psicoativo e pode ser eficaz para dor, náusea e estimulação do apetite.
A proporção entre esses compostos varia conforme o produto:
Produtos com alto teor de CBD e baixo THC: Indicados para pacientes que buscam alívio sem efeitos psicoativos, como crianças com epilepsia ou idosos com ansiedade.
Balanceados (CBD:THC 1:1): Podem ser úteis para dor crônica, esclerose múltipla ou insônia.
Mais teor de THC: Recomendados para condições como dor intensa, náusea induzida por quimioterapia ou falta de apetite, mas exigem monitoramento rigoroso.
3. Escolha a Via de Administração Adequada
A forma de consumo influencia a velocidade e a duração dos efeitos:
Óleos sublinguais: Absorção rápida e dosagem precisa, ideais para pacientes que precisam de controle sintomático contínuo.
Cápsulas e comestíveis: Efeitos mais prolongados, mas com início mais lento. Indicados para pacientes que preferem uma abordagem discreta.
Vaporização: Efeitos rápidos, mas pode não ser adequado para pacientes com problemas respiratórios.
Tópicos (cremes e pomadas): Indicados para dores localizadas ou condições dermatológicas.
4. Considere a Qualidade e a Procedência do Produto
Oriente seus pacientes a escolher produtos de fabricantes confiáveis, que forneçam certificados de análise (COAs) com informações sobre concentração de canabinoides, presença de contaminantes e pureza.
Produtos regulamentados e testados garantem segurança e eficácia.
5. Acompanhe e Ajuste o Tratamento
A cannabis medicinal não é uma única solução para todos. Inicie com doses baixas e aumente gradualmente, monitorando os efeitos terapêuticos e possíveis reações adversas.
Também é necessário manter um diálogo aberto com o paciente para ajustar o tratamento conforme necessário.
A escolha do produto de cannabis ideal requer uma abordagem personalizada, baseada em evidências científicas e no perfil individual do paciente.
Como profissional de saúde, seu papel é fundamental para orientar decisões seguras e eficazes, garantindo que a cannabis medicinal seja uma ferramenta terapêutica benéfica e bem utilizada.
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