Como foi o evento do prêmio das 50 mulheres mais influentes do mundo da cannabis
A palavra cannabis é feminina. Se trata de uma planta dióica, ou seja, as flores femininas e masculinas encontram-se em indivíduos separados. É da fêmea que vem a sua parte mais rica: as flores. Parece que a relação positiva entre mulheres e cannabis não é exatamente um acaso: 37% da liderança no mercado da cannabis é feminina, contra 16% das lideranças empresariais em geral. Há um caminho incrível para nós – mulheres – neste mercado e que ainda está sendo criado. O melhor? Podemos fazê-lo do nosso modo.
Entre 7.500 indicações, a High Times Magazine selecionou as 50 mulheres que julgou serem as mais influentes no mercado da cannabis no mundo. Fiquei honrada ao receber a notícia de que fui escolhida como uma delas – a única latino-americana.
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A homenagem aconteceu no dia 13 de novembro em Los Angeles, na Califórnia. “Você acredita que estamos em um evento de cannabis em Beverly Hills? É impressionante!” me dizia o Kraig Fox, CEO da High Times Magazine, assim que cheguei. Apesar de termos a impressão de que os EUA está muito avançado sobre o tema, ao vivenciar o contexto atual a sensação é que o proibicionismo ainda está presente. É inegável que já deram passos importantes e mais largos do que os nossos, mas o assunto ainda gera um enorme impacto e traz consigo muito preconceito.
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Nos EUA, qualquer pessoa consegue comprar produtos de CBD “over the counter”, ou seja, livremente. Porém, esta banalização gera insegurança em pacientes com doenças crônicas, principalmente naqueles que já fazem uso de outros medicamentos. Incluir um novo produto em um tratamento sem levar em consideração fatores como interações medicamentosas é sempre um risco. A solução mais responsável seria que estas pessoas tivessem acompanhamento e orientação médica. Mas assim como no Brasil, ainda faltam profissionais especializados na terapêutica canábica.
Com exceção de lugares como Colorado e Washington, a sensação é a mesma que temos por aqui: um mercado no gerúndio. Ou seja, um mercado que está acontecendo, sendo criado, em formação. Neste sentido, não é um futuro tão distante do que vivemos aqui no Brasil.
Sempre digo que é fundamental trabalhar com o que temos. A regulação ideal em qualquer mercado novo, não só no de cannabis, sempre chega depois da inovação. Na verdade, é a inovação que cria a pressão e submete a uma nova realidade que demanda regras e leis adequadas.
Voltando ao evento, depoimentos emocionados e palestras interessantes tomaram conta do almoço no Wilshire Beverly Hills Hotel. Em 45 anos a High Times Magazine nunca havia homenageado uma criança em sua capa. E a escolha não poderia ter sido mais acertada. A paciente icônica dos EUA, Charlotte Figi, foi a escolhida para ilustrar a edição do evento. É ela quem dá nome ao famoso óleo de cannabis Charlotte’s Web.
“Eu não fiquei feliz quando descobri que existia medicamento extremamente eficaz para ajudar minha filha a deixar de convulsionar. Eu fiquei irritada! Irritada, porque ela passou anos sofrendo antes que eu soubesse que esta alternativa existia. Hoje eu trabalho para que ninguém mais passe pelo que minha filha passou” – contou Page Figi, mãe de Charlotte.
Algo muito interessante que esta experiência trouxe foi a reflexão que me peguei fazendo: será que todo uso da cannabis não é terapêutico de alguma forma? A mãe de Charlotte, diz que sim. Afinal, o uso da cannabis é milenar e sempre teve como objetivo o bem-estar do ser humano. Não foi a primeira vez que ouvi este tipo de afirmação. Margarete Brito, da Apepi e também mãe de paciente, já havia explorado este raciocínio quando questionou se as aplicações da cannabis medicinal não estariam além das doenças crônicas, afirmando que ninguém faz uso da planta para sentir-se mal. Charlotte não esteve presente no evento, ela mora em outro estado e seu medicamento, por ser à base de cannabis, não tem autorização para cruzar fronteiras e entrar no estado da Califórnia.
Ouço, com frequência, dos médicos da Dr. Cannabis, sobre pacientes que buscam acesso legal à cannabis por conta dos benefícios que os efeitos da planta trazem para a vida deles, o tal do bem-estar. Talvez, a melhor alternativa seja lutarmos por uma regulamentação que possibilite o acesso de forma responsável e legal, com ações de redução de danos e educação sobre os riscos, que na ilegalidade são negligenciados.
Tomou a palavra a fundadora da High Times Magazine, que fez questão de relembrar que a primeira capa da revista estampava uma mulher. Contou que 50% de sua equipe é feminina, que homens e mulheres possuem os mesmo benefícios e que há um cuidado para que isso se mantenha.
Hoje, o time da Dr. Cannabis é majoritariamente composto por mulheres. Foi emocionante ver como cada uma delas vibrou por este reconhecimento, como se sentiram representadas e como o trabalho desenvolvido pela Dr. Cannabis está colocando o Brasil e a América Latina no mapa mundial da cannabis. A elas, às mães, às pacientes, às médicas, empresárias e entusiastas, dedico este prêmio.